Responsáveis
Janaina de Fátima Zdebskyi (doutoranda, UFSC) e Raisa Sagredo (doutoranda, UFSC)
Ementa
Durante muitas décadas, olhares, interpretações e epistemologias que hoje percebemos como eurocentradas, patriarcais e racistas produziram conhecimento histórico e arqueológico sobre sociedades da História Antiga. A partir das críticas advindas de teóricos decoloniais e de discussões que, a partir das nossas experiências enquanto latinas e brasileiras, compreendem o passado e o presente com suas demandas atuais como entrelaçados, novos olhares começam a ser tecidos. O mini curso se propõe a refletir sobre metodologias possíveis para trazer a público outras narrativas possíveis sobre o tempo e o espaço da Antiguidade, apresentando a possibilidade de construir um arcabouço teórico metodológico a partir da epistemologia decolonial para analisar fontes em torno do Egito e na Mesopotâmia. Nosso objetivo é proporcionar um contato com essas fontes antigas, que há muito tempo foram estudadas e investigadas sob uma ótica colonialista, e mostrar as possibilidades de se trabalhar com um aporte teórico e metodológico pautado nos estudos decoloniais e as contribuições desse olhar para o campo da História Antiga como um todo. Propomos trabalhar alguns pontos específicos como a racialização dos antigos egípcios, as representações de Cleópatra, problematizar as visões contemporâneas construídas a partir da imagem de divindades mesopotâmicas, como Inanna, que por vezes são lidas como demônios ou representações da Lilith judaico cristã e mesmo a ideia de que os grandes deuses mesopotâmicos (Anunnakis) seriam seres extraterrestre que teriam “colonizado” a Terra. Assim, discutir e (re)pensar a História Antiga de forma decolonial é um convite a desconstruir o eurocentrismo que impregna o passado de sociedades antigas e que moldaram durante tanto tempo nossas próprias representações e perguntas feitas a esse passado.
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